Uma Lógica Chamada Joe - Murray Leinster

Trecho de uma história escrita em 1946, que descreve com precisão os computadores pessoais (PCs) e a Internet.

   "Sou funcionário de manutenção da Companhia de Lógicas. Meu serviço consiste em consertá-las e reconheço, com modéstia, que sou muito competente. Já consertava televisões antes que esse tal de Carson inventasse seu circuito cheio de macetes que seleciona qualquer um de dezenas de milhões de outros circuitos — teoricamente não existem limites — e, antes que a Companhia de Lógicas o utilizasse no aparelho receptor-e-integrador, já recorriam a ele para os consertos de máquinas comerciais. Acrescentaram um vídeo para ganhar rapidez — e descobriram que tinham inventado as lógicas. Ficaram surpresos e contentes. Ainda estão verificando o que elas são capazes de fazer, mas a esta altura não há quem não tenha a sua.
   Joe surgiu logo depois que Laurine quase liquidou comigo. Você sabe como é o aparelho, pois deve ter um em casa. Se parece com um receptor de imagens antigo, só que tem teclas em vez de diais, que a gente aperta para obter o que quer. Está acoplado ao receptor, que contém o Circuito Carson todo munido de relés. Digamos, por exemplo, que você aperte "Estação SNAFU” na sua lógica. Os transmissores do receptor assumem o comando e qualquer programa SNAFU que esteja sendo televisionado começa a passar no vídeo da sua lógica. Ou você aperta "o telefone de Sally Hancock" e o quadro se põe a piscar, a estalar, e você entra era comunicação com a casa dela e se alguém atender você obtém uma ligação audiovisual.
   Mas além disso, se quiser saber a previsão do tempo ou quem ganhou hoje a corrida em Hialeah ou qual foi a mulher que dividiu com o presidente Garfield a administração da Casa Branca durante aquele período de governo ou o que é que a firma de fulano ou beltrano está liquidando hoje, isso também aparece no vídeo. Tudo por conta dos relés do receptor. A matriz do receptor é um enorme prédio que contém todos os fatos desde a criação do mundo e qualquer programa de televisão que já foi gravado até hoje — e está ligado a tudo quanto é receptor do país inteiro — e qualquer coisa que você queira saber, ver ou ouvir, é só apertar a tecla e lá está. É conveniente à beça. Também faz operações de matemática para você, funciona como guarda-livros, farmacêutico, físico, astrônomo, vidente e, de quebra, como "Consultório Sentimental". A única coisa que não faz é explicar exatamente o que é que a sua mulher pretendia insinuar quando disse "Ah, você acha, é?" com aquele estranho timbre de voz. As lógicas não funcionam direito com mulheres.
   Só com coisas que dá para entender.
   São, como já disse, muito prestativas. Segundo os intelectuais, transformaram a civilização. Tudo por causa do Circuito Carson. E Joe deveria ser uma lógica perfeitamente normal, ajudando qualquer família a não quebrar a cabeça com os deveres dos filhos pequenos em casa. Mas algo aconteceu na linha de montagem. Tão insignificante que os manômetros de precisão nem conseguiram registrar, mas o suficiente para tornar Joe um caso à parte. Pode ser que no começo ele nem soubesse. Ou talvez, sendo racional, desconfiasse que, se mostrasse que era diferente das outras lógicas, seria jogado fora. O que teria sido uma grande ideia. Mas, seja lá como for, saiu da linha de montagem e passou por todos os testes de praxe sem que ninguém soltasse gritos histéricos ao descobrir como era. E depois foi levado para ser instalado em casa do sr. Thaddeus Korlanovitch, na rua Sete, lado leste, número 119, na parte da frente do andar superior. Até aí, tudo bem."


Uma Lógica Chamada Joe
Murray Leinster 


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